quarta-feira, 21 de abril de 2010

O Triste Destino de um Corno Manso

Texto escrito pelo meu amigo El PaTRio.

Marcelo costumava perambular solitário pela noite, indo de bar em bar, de puteiro em puteiro, bebendo e metendo, não necessariamente nessa ordem, para esquecer dos infortúnios da vida. Marcelo tem um filho que mora com sua ex-mulher, com quem manteve um relacionamento de final conturbado. Pegara sua esposa com outro na cama, não era seu melhor amigo, como é de prache, mas seu pior inimigo, para aumentar ainda mais o tom melodramático da cena, que ele ainda guarda em sua memória perturbada.

Era uma noite quente de verão quando as luzes da escola pública em que lecionava Filosofia se acabaram, por ação de sabotagem de algum aluno vandalo, como era comum de acontecer naquela escola e em tantas outras escolas de bairros distantes. Imediatamente as aulas foram interrompidas fazendo com que Marcelo voltasse mais cedo para a casa, que ficava a poucos quarteirões da escola. Tomado por um mau pressentimento, Marcelo acelerou os passos, virou a esquina, andou mais um pouco e estava diante de sua casa. Virou a chave e entrou. Com o coração ritimado, foi silencioso ao subir as escadas. Chegando na parte de cima, viu a cena ao abrir a porta. Sua esposa, professora de educação infantil, estava, possivelmente, sendo enraba por Heitor, seu algoz acadêmico, professor universitário de Filosofia, de umas das mais prestigiosas universidades. Ambos foram alunos na mesma turma, de início amigos, no final inimigos, suas carreiras profissionais tomaram rumos diferentes. Marcelo acusa Heitor de "furto intelectual", quando ambos concorriam a uma cadeira titular na universidade que fora conquistada por Heitor. Segundo Marcelo, Heitor lhe roubara a tese vencedora defendida por ele durante processo de seleção. Heitor ficou com a vaga enquanto Marcelo foi lecionar em escolas públicas.

Agora Heitor também lhe roubara a esposa, que gozava feito uma louca, diante de seus olhos incrédulos, ao ser enrabada com força e pegada pelo Heitor comedor, filósofo e fodão. Com o orgulho ferido, Marcelo largou sua esposa e passou a beber além da conta, oq lhe fez perder a guarda do filho. Esteve a ponto de ser exonerado da escola, acusado de lecionar alcolizado. Desprovido de qualquer auto-estima, passou a frequentar puteiros em busca de companhias, de bebidas e mulheres. Sem dinheiro, entrava em inferninhos baratos onde acabou se identificando com o ambiente e a decadência reinante na atmosfera desses lugares. A depressão aguda lhe trouxe problemas de ereção, então passava na companhia das putas conversando e bebendo, onde na maioria das vezes não transava. Pagava pelos serviços mas não usufluia dos prazeres da carne, apenas compartilhava com as garotas, histórias de vida tão ou mais trágicas que a dele. Eram horas de terapia barata de botequim regadas a muita bebida alcoolica. E a cada sessão o resultado era um buraco cada vez mais fundo cavado na sua alma ferida pela traição.

Até que um certo dia, Marcelo conheceu uma puta pela qual se apaixonou. A jovem garota, de 20 e poucos anos, tinha idade para ser sua filha, e uma beleza desgastada pela vida nada fácil da noite. Dona de uma melancolia peculiar, e uma bunda tão peculiar quanto, Samanta conquistou Marcelo. Marcelo expos suas emoçoes covindado-a para morar junto com ele em sua quitinete, a garota topou e então foram morar juntos. Samanta era viciada pelas drogas, de início Marcelo apenas tolerava, mas logo passou a dividir o vício com a garota. Agora era o fundo do posso, alcólatra, drogado e corno. Marcelo, sem condições e disposição, abandonou as aulas e passou praticamente a viver as custas da garota, tal qual um gigolô inútil.

No tempo ocioso que lhe sobrava, motivado pelas drogas talvez, Marcelo passou a refletir sobre a vida, dando vazão a sua veia filosófica que ainda lhe restara, e com o olhar perdido em algum ponto fixo do teto de sua quiti, Marcelo fez-se a seguinte indagação:

Quem é o culpado? Quem caga na maçaneta ou quem abre a porta??

Depois de refletir alguns segundos sobre tão profunda questão, Marcelo conclui que a culpa total e absoluta pertence a quem abre a porta, pois o mundo é de quem sacaneia, esse é o jogo da vida, sacanear e ser sacaneado. Portanto, alguém tem que cagar na maçaneta para que o desatento suje a mão de merda. O mundo é dos espertos, pensou ele, e os otários são culpados por serem otários. No entanto, alguém cagou na maçaneta e Marcelo abriu a porta. Marcelo pertencia ao time dos perdedores, e a culpa era dele e de mais ninguém.

Certo dia, entediada, Samanta resolveu improvisar. Chegou em casa com uma sacola de onde sacou uma cinta-caralha, dispositivo composto por um pinto de borracha preso a uma cinta. Despiu-se e colocou a cinta, rindo alucinada. Marcelo sempre fora conservador em termos de sexo do tipo que não topava praticas sexuais alternativas. Sua mente aberta de filósofo era obtusa quando o assunto era sexo. No entanto, como Marcelo estava todo fodido na vida, Samanta não encontrou muita resitência em lhe foder literamente. Botando Marcelo de quatro, enfiou-lhe o maranhão na bunda. Entorpecido, restou a Marcelo submeter-se como um zumbi sem alma.

Com o tempo Marcelo tomou gosto pela coisa a ponto de inovar as praticas boiolísticas, resolvendo entao vestir-se de mulher, para espanto de Samanta. A invesão de papéis ganhou um ingrediente mais realista. As vezes Samanta chegava em casa e encontrava Marcelo vestido de peruca e saia. Até que um dia Samanta se cansou de tudo isso, principalmente de sustentar Marcelo, e resolveu largá-lo. Desempregado e entregue aos vicíos, aproveitou-se de sua nova fantasia sexual e resolveu prostituir-se. Botou salto alto, peruca e vestido e foi para a esquina rodar bolsinha. Quando tinha um bom dinheiro guardado, Marcelo procurou um cirurgião. Colocou silicone nos peitos e na bunda, se transformando num verdadeiro travecão. Marcelo, então, tornou-se num dos travestis mais requisitados da boca. Agora Marcelo era Paloma Furacão, a diva pintosa.

Mas o destino, que lhe pregara as maiores peças, ainda lhe reservava a maior de todas. Certo dia Paloma estava fazendo ponto quando foi abordado por um cliente. O vidro do carro abriu e Paloma se aproximou do carro. Alguns minutos de conversa e o programa estava fechado. Paloma entrou no carro que partiu. Foi quando Marcelo, ou melhor, Paloma, sentiu um calafrio que lhe percorreu toda a espinha. Apesar de gordo e calvo, Paloma reconhecera o sujeito. Era ele. Heitor, seu algoz. De imediato, Paloma sentiu ódio profundo, para logo em seguida ser tomado pelo desespero. Por fim, Marcelo manteve a frieza e o controle necessários para que ele plenajasse algo. Então, em poucos minutos, Marcelo tomou sua decisão guiado pelo desejo de vingança.Chegaram no hotel.

A maçaneta seria limpa.


No dia seguinte o noticiário trouxe a notícia de que um prestigioso professor universitário havia sido encontrado assassinado no quarto de um hotel barato, vitima de vários golpes desferidos por objeto pontiagudo. Seu corpo ensanguentado e sem vida vestia apenas uma calcinha vermelha, cheia de frufru. Na suas costas um V enorme, de viado, escrito em sangue.

Mesmo que tardiamente,a dor de corno estava vingada.

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